o Mundo de costas para deus...

Manuel Aparici Navarro

Nesta época, onde a Ação Católica tem um papel importante, idealizam-se os Cursos de Chefes Peregrinos: preparar e levar 100.000 jovens peregrinos (em graça) a Santiago de Compostela, com o impulso decisivo de Manuel Aparici Navarro, chamado de «Capitão dos peregrinos», nesta e noutras peregrinações.

Na Semana Santa de 1943 convidam um jovem de 29 anos, militar, Eduardo Bonnin, a participar no 2.º Curso de Chefes Peregrinos.

Bonnin, era natural de Palma de Maiorca, onde nasceu a 4/5/1917, no seio de uma família numerosa com dez irmãos.

Desde jovem teve a visão e a inquietação de chegar com o Evangelho aos mais afastados, especialmente aos mais jovens. Eduardo foi educado num ambiente de fé católica profunda, mas ao mesmo tempo num ambiente fechado, não tendo outros contatos, além dos que a sua família mantinha no comércio e com os ambientes rurais da ilha.

A experiência determinante da sua vida foi a do serviço militar, em 1937, onde contatou com todas as classes sociais e concluiu que a maior parte dos seus colegas vivia num ambiente descristianizado (ou mesmo hostil), face à religião, mas que ainda conservavam uma série de valores evangélicos (como a rejeição da mentira e hipocrisia, a alegria, a abertura a todas as classes, o sentido da amizade, etc.). Nesse ambiente Bonnin conservava sempre o seu bom humor.

Tendo também uma cultura elevada, foi então contatado pelo Presidente da Ação Católica dos jovens de Maiorca, o arquitecto José Ferragut, para assistir no segundo cursilho de chefe de peregrinos: tinha na altura 26 anos. Bonnin aperfeiçoa a programa e escreve o «Estudo do Ambiente»: o importante é transformar os ambientes, através da “conquista” primeira das “vértebras” dos mesmos (os líderes em cada ambiente). Os cursos são reestruturados: passam a 3 dias, com tónica na evangelização e no kerígma; e o objetivo dos cursos é alargado: de uma preparação para uma peregrinação passa ao objetivo de fermentar os ambientes de cristianismo.


Eduardo Bonnin

Juan Capó

Sebastian Gaya

Don Juan Hervás

É então que um jovem sacerdote, responsável pela pastoral universitária de Maiorca, Monsenhor Sebastian Gayá, torna-se um ferrenho adepto deste método e contribui, junto com Bonnin, para a expansão entusiástica dos cursilhos.

Em Agosto de 1944, de 20 a 23/8/1944, num ‘chalé’ em Calla Figuera de Santanyi, em Palma de Maiorca, realiza-se o primeiro Cursilho (sessão experimental, não oficial), já com as alterações introduzidas por Bonnin. Desde aí, até 1948, alternaram-se os cursilhos dos chefes dos pergerinos com os cursilhos de duração de três dias.


O êxito desse primeiro cursilho não oficial foi estrondoso: ajudou na conversão pessoal e transformação dos ambientes.

«O Senhor foi misericordioso e providente: voltei para Ele; a minha vida tem sentido; sou um homem “razoavelmente” feliz. (…) Posso desejar mais?»

Salvador Escribano Hernández, participante do 1.º cursilho da história


Entretanto, em Agosto de 1948, teve lugar a famosa peregrinação a Santiago de Compostela de cerca de 100.000 jovens, sendo um êxito total. Maiorca enviava 600 jovens, nos quais se incluía Bonnin, levando com eles o «Guia do Peregrino», que continha orações escritas num estilo surpreendentemente direto, ao invés dos rebuscados livros de piedade da época, livro da autoria do jovem sacerdote D. Juan Capó, que também teve um papel importante, pelo seu enorme saber teológico e cultura geral, expressão verbal fabulosa.

Depois de algumas celebrações em Santiago, inclusive com palavras dirigidas por Pio XII pela rádio, os jovens de Maiorca regressaram, onde eram esperados por 50.000 pessoas! Já na praça central, o assessor diocesano da Ação Católica, Don Gayá, lançou um desafio aos jovens: «Fomos a Santiago para tornarmo-nos santos. E o que faremos agora?».

A partir daí, Bonnin lançou-se numa verdadeira sucessão de cursilhos ao ano, trabalhando incessantemente na Vinha do Senhor, lançando um grito de alerta para a juventude, propagando o Evangelho de Jesus Cristo, à semelhança de São Paulo. E depois de uma vida intensa dedicada aos cursilhos, Bonnin faleceu em 6/2/2008, com 90 anos, por volta das 18 horas, em Espanha.

Após a peregrinação a Santiago (1948) e o êxito dos cursilhos realizados, o apoio decisivo veio de D. Juan Hervás, um dos mais jovens do episcopado espanhol. Ele reconheceu a importância dos cursilhos na evangelização.

«Sem dúvida nenhuma a ele se deve o facto de os Cursilhos serem aceites pela Igreja».

(in “O Meu Testamento Espiritual”– Eduardo Bonnín Aguiló - 2009)